UM TÍTULO CONQUISTADO SOB A ÉGIDE DE DEUS
- ADVÍNCULA NOBRE
- 12 de nov. de 2018
- 4 min de leitura
UM TÍTULO CONQUISTADO SOB A ÉGIDE DE DEUS

Não costumo ter dificuldades com as palavras, muito embora não seja um escrevinhador renomado, contudo neste instante confesso a minha dificuldade em articulá-las e me pergunto diante dessa conquista memorável: O que posso dizer? Que estou extasiado?
Com certeza, todos nós tricolores estamos extasiados em razão dessa conquista memorável, especialmente aqueles que como eu passaram dos 70 anos, in casu tenho 71, e que já vimos esse sonho bater na trave em cinco oportunidades. São 2 vices da Série A, 2 da Série B e 1 da Série C. Esses eram os nossos cartões de visita.
Recordo e as lágrimas me descem dos olhos e escorrem pela minha face que, quando aqui cheguei de Morada Nova e sem entender muito de futebol, escolhi o Fortaleza para torcer, Essa tomada de decisão estava ano meu sangue e traçada no meu destino. Sou Leão até no signo.
Somente para que os mais novos tenham uma ideia, o Estádio Municipal Getúlio Vargas, denominação da época, ainda tinha no “lado do sol”, como é chamado ainda hoje pela imprensa, arquibancadas de madeira.
À época, sempre entrando na “Hora do Pobre”, hora em que os portões se abriam cerca de 15 minutos antes do fim do jogo para que os menos aquinhoados financeiramente, ou literalmente pobres, entrassem como se fora uma horda, para assistirem o restante da partida. Um pouquinho mais, pois naquele tempo haviam os acréscimos, chamados de “descontos”.
Foi naquela época que vi o Fortaleza perder para o Palmeiras por 3 x 1, se não me falha a memória, derrota que não degluti bem, exatamente por não ter uma noção exata que da distância que separava o nosso futebol, até então provinciano, do praticado no sul do país.
Ressalte-se que o futebol do Sudeste eu passei a conhecer após essa decisão contra o Palmeiras e, posteriormente nos cinemas, através do Canal 100. O gol do Fortaleza foi assinalado pelo Benedito, recém homenageado pelo Tricolor.
Nessa partida o Tricolor formou com Pedrinho, Mesquita e Sanatiel, Célio e Ninoso; Toinho, Benedito e Zé Raimundo; Walter Vieira, Charuto e Bececê. O Bececê, o artilheiro da competição com 7 gols, foi contratado pelo Palmeiras.
Estou dando ênfase a essa disputa para dizer que, em que pese termos sido goleados pelo Palmeiras, uma das melhores equipes do Brasil à época, essa conquista do nosso primeiro vice-campeonato colocou o futebol cearense e o Fortaleza no mapa futebolístico do Brasil.
Em 1968 conquistaríamos outro vice, desta feita contra o Botafogo, que tinha um timaço, com jogadores renomados, a exemplo do Jairzinho, que viria a ser o “Furacão da Copa” em 1970 que, contundido, não atuou.
O Botafogo contava com o famoso meio de campo Carlos Roberto e Afonsinho e por mais paradoxal que possa parecer o baixinho era o Carlos Roberto e o grandalhão era o Afonsinho.
O time-base do Botafogo era: Cao, Moreira, Chiquinho Pastor (Leônidas), Moisés, Valtencir; Carlos Roberto (Nei Conceição), Afonsinho; Rogério, Roberto, Ferretti e Paulo César Caju. Técnico: Zagalo).
O time-base do Tricolor era Mundinho, William, Zé Paulo, Renato, Luciano Abreu; Joãozinho e Luciano Frota; Garrinchinha, Lucinho, Erandir (Mozart) (Amorim), Mimi (Aloísio). Técnico: Gilvan Dias.
Fiz questão de rememorar esses dois vice-campeonatos brasileiros, por razões muito simples: Colocaram o Fortaleza na geografia do futebol brasileiro, assim como o próprio futebol cearense e se trataram de disputas pelo cetro máximo da Primeira Divisão, algo inimaginável até então.
No sábado o meu sonho de mais de 60 anos se realizou, o de um título nacional para compensar essas perdas, algumas das quais muito doridas. Essas duas primeiras não as senti muito porque o Fortaleza estava se digladiando com gigantes. As de 2002 e 2004 já me abalaram um pouco mais, porque as disputas foram com times parelhos.
A perda mais doída e dorida de todas foi a de 2017 para o CSA, pois a impressão que tenho até hoje é a de que faltou aquele algo mais, que não posso explicar. Pode ter faltado um grito, que poderia ter salvo a boiada, pois perder aqui dentro para o CSA foi um duro golpe. Acho que faltou confiança e o espírito de um time vencedor, que nesse sobejou.
Um pouquinho mais de sorte ou de capricho poderia ter nos dado o título da Série C. Não há mais jeito e nem devemos ficar chorando o leite derramado, até porque águas passadas não movem moinhos. O que realmente conta é que continuamos remando e seguindo o curso do rio.
E seguindo esse curso conquistamos neste sábado o título mais importante da nossa história, amealhado por um time sem medalhões, conforme já frisei, mas sobretudo comandando por um treinador vencedor e composto de jogadores muito comprometidos com os objetivos tricolores.
Não podemos esquecer esse quadrinômio: Diretoria e demais poderes do Fortaleza; Comissão Técnica; Elenco e Torcida, responsável por essa conquista-mor, em que todos estão no mesmo patamar em importância, embora esse apoio inconteste da torcida tenha sido determinante.
O que importa é que hoje todos nós estamos em “estado de graça” e como se diz popularmente, a ficha ainda não caiu, tanto é que por vezes tenho me beliscado para ver se não estou sonhando, dado o nosso “êxtase” que consoante a definição “é o arrebatamento do espírito; enlevo e contemplação do que é divino, sobrenatural e maravilhoso”. Esse título foi uma dádiva de Deus”, podem crer. Obrigado Senhor!
Por hoje c’est fini.
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